Adeus, baiano!

Barão de Popoff
Arquivo pessoal

Não fui ao velório do Barão. Nem noticiei a sua morte. Prefiro lembrar da nossa despedida alegre e descontraída do sábado de carnaval. Como sempre fazíamos, brincávamos a cada reencontro. A brincadeira que poderia ser chata e repetitiva, ganhava contornos inteligentes e inéditos a cada novo bate-papo. O “papel” dependia de quem enxergava o outro primeiro. Quando ele, se travestia de "turista" e me perguntava: moço, onde fica a praia? Eu apontava para Itabuna e ele com um sorriso escancarado e fraterno, respondia: é por isso que o turismo de Ilhéus não vai pra frente.

No sábado, entretanto, eu o vi primeiro. Tive o direito à provocação. "Moço, sou de Salvador e vim passar o Carnaval aqui. Sabe me dizer que horas o Chiclete com Banana desfila?". Ele sorriu pra mim pela última vez. E completou: "Baiano, vai para a sua praia. É por aqui", apontando em direção a Itabuna.

Barão de Popoff era a alegria viva desta cidade. Pensar o melhor para ela preenchia a sua alma e massageava o velho coração que nesta quarta-feira de Cinzas resolveu parar de bater. Popoff conseguiu ultrapassar gerações e ser amigo dos pais, dos filhos e dos netos desta cidade. Foi parceiro de cinema do meu pai. Foi meu parceiro da alegria.

Por isso peço desculpas a Denise e aos meninos por não ter ido dar o meu último carinho ao velho amigo. Prefiro guardar o sorriso de sábado de carnaval, o encontro dos nossos velhos personagens, o dedo apontado para a "praia" de Itabuna e o abraço apertado de quem sempre se divertia ao me contar o que ele e meu pai aprontavam quando eram apagadas as luzes do velho Cine Teatro Ilhéos.

Vá em paz, amigo!

O autor Maurício Maron é jornalista e editor do Jornal Bahia Online